Tecendo a Manhã
João Cabral de Melo Neto
"Um galo sozinho não tece a manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
e o lance a outro: de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
se erguendo tenda, onde entrem todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão".
que, tecido, se eleva por si: luz balão".
Vi essa produção com o poema do grande João Cabral de Melo Neto, pela primeira vez, no blog do meu amigo Shasça o Fratura Exposta . Lindo poema, lindas imagens. Fiquei bastante tocada porque foi postado pelo amigo num momento em que precisamos apaziguar o nosso espírito, depois de tanta tensão e estresse vivenciados por todo o Brasil durante o processo eleitoral deste ano. Fiz questão de reproduzir aqui não a postagem inteira do Shasça, mas a produção acima, como forma de um novo recomeço, porque como diz o Cabral, a manhã "plana livre de armação".
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