sábado, 6 de novembro de 2010

Porque o sol nasce para todos





Tecendo a Manhã
 
  
                  João Cabral de Melo Neto


"Um galo sozinho não tece a manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
 
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
 
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão".
 


Vi essa produção com o poema do grande João Cabral de Melo Neto, pela primeira vez, no blog do meu amigo Shasça o Fratura Exposta  . Lindo poema, lindas imagens. Fiquei bastante tocada porque foi postado pelo amigo num momento em que precisamos apaziguar o nosso espírito, depois de tanta tensão e estresse  vivenciados por todo o Brasil durante o processo eleitoral deste ano. Fiz questão de reproduzir aqui não a postagem inteira do Shasça, mas a produção acima, como forma de um novo recomeço, porque como diz o Cabral, a manhã "plana livre de armação".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui o seu comentário. Os comentários serão previamente moderados.