quarta-feira, 31 de agosto de 2011

"Brasil a ir"



Recebi esta matéria via email, enviada por um amigo português. A original foi publicada no Jornal português Expresso, em 13 de agosto de 2011, cuja versão digital você pode acessar aqui. Achei bastante interessante e por isto a reproduzo neste blog. Trata da questão da volta dos brasileiros ao Brasil em função dos bons fluidos econômicos porque passa o país e em função da grave crise econômica porque passa a Europa, mais especificamente, Portugal. Trata também e, consequentemente, de questões que envolvem preconceitos contra imigrantes.
Passei 10 meses na cidade do Porto em Portugal, fazendo a primeira parte do meu Curso de Doutorado. Convivi com muitos portugueses e, se é certo que são mais fechados e aparentemente mais "carrancudos" do que nós, é certo também que, por trás dessa suposta carranca, são pessoas generosas e hospitaleiras. Penso que qualquer opinião sobre o relacionamento social entre portugueses e brasileiros em solo português, depende muito dos espaços de convivência onde essas relações se dão. A maioria das pessoas com quem convivi era da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, uma faculdade que aglutina, reconhecidamente, profissionais mais progressistas e mais conscientes das mazelas da humanidade, consequentemente, mais acessíveis, mais abertos ao novo, ao diferente. 
Por outro lado, algumas situações vividas nas ruas, em lugares como bares, cafés, lojas, pontos turísticos, deixavam-me, por vezes, sem entender se determinada forma de ser atendida, com mais rispidez em algumas situações, tinha a ver com o fato de ser brasileira ou se assim ocorria com qualquer um que acessasse aquele local naquele momento e fosse recebido por aquela pessoa especificamente, mesmo sendo portugueses. Penso que está mais para esta segunda opção, até porque, os casos de preconceito a brasileiros que me chegavam aos ouvidos, era, em sua maioria, vivenciado por pessoas de baixa renda, que estavam em Portugal  trabalhando ou em busca de um trabalho para sobreviver. Como pessoa ligada a uma Universidade, vivendo em uma casa de estudantes que só recebia pós-graduados, nunca senti qualquer preconceito pelo fato de ser brasileira. Pelo contrário, brincávamos juntos, nós, os brasileiros e os portugueses, com as piadas sobre uns e outros e tínhamos uma profunda admiração mútua. Algumas vezes, fomos recebidos nas casas de amigos portugueses de uma forma que nos fazia sentir como se estivéssemos em nossa própria casa, com muito carinho e mesa farta, tal e qual gostamos de fazer por aqui. Essas recepções faziam jus à canção que diz "é uma casa portuguesa com certeza, com certeza é uma casa portuguesa". 
Ademais, devo dizer que já tive muito mais sensação de ser vítima de preconceito por ser nordestina, aqui no Brasil. Isso nas minhas andanças pelo sudeste do país, e, pasmem, exatamente por pessoas que trabalham em serviços, esses mesmos que, se estivessem em algum lugar da, assim denominada pela autora da reportagem abaixo, “Fortaleza Europa”, ou nos Estados Unidos, trabalhando ou em busca de trabalho nesses mesmos serviços, poderiam ser vítimas de preconceito étnico e social, como na maior parte das vezes são.
Quero dizer também que, portugueses já sofreram e ainda sofrem preconceitos aqui no Brasil. Certa vez, andando de táxi com uma amiga carioca, no Rio de Janeiro, o motorista fez algum comentário preconceituoso contra nordestinos e essa amiga teve uma reação bem dura com ele, dizendo que não gostava daquele tipo de comentário, até porque, já havia sido, especialmente quando criança, vítima de preconceito por ser filha de português. E de como sofria por isto. Lembro que, na minha infância, achava que todo português era dono de padaria, porque no meu bairro sempre se falava da padaria do “portuga”. Fora isso, crescemos aqui com inúmeras piadas envolvendo portugueses, o que, hoje em dia, quando recebo via correio eletrônico, faço questão de não ler e de deletar. E se alguém as quer contar oralmente, faço questão de não as escutar, como costumo proceder com todo tipo de piada que busca diminuir o outro por questões étnicas, sexuais, de gênero, de geração ou raciais Então meus amigos, portugueses e brasileiros, todos nós, sem qualquer exceção, temos que aprender com o diferente, temos que nos abrir à novas culturas, sabendo que, como afirma a Clara Ferreira Alves, “Os imigrantes trazem cheiro da viagem e dos novos costumes e tradições.....”




O Brasil a ir embora

Um país que decide prescindir de imigrantes é um país empobrecido
   Clara Ferreira Alves – Jornal Expresso

sábado, 27 de agosto de 2011

"A Aventura de Miguel Littin, Clandestino no Chile"



De Gabriel Garcia Marques








Retirado do site SHVOONG.com a fonte global de resumos e críticas


"Este livro é uma reportagem em que o escritor colombiano, Prémio Nobel de literatura em 1982, dá voz ao cineasta chileno Miguel Littin que, em 1985, conseguiu entrar clandestino no seu país. A exemplo do que fez em "Relato de um Náufrago" Gabriel Garcia Marquez escreveu "A Aventura de Miguel Littin, Clandestino no Chile" inteiramente na primeira pessoa de forma a assegurar a autenticidade sobretudo no que se refere às emoções do depoimento. Proibido de entrar no Chile pela ditadura do general Augusto Pinochet, Littin submeteu-se não só a uma mudança de personalidade, mas também de aspecto físico e da sua pronúncia não tendo sido reconhecido sequer pela sua própria mãe nem pelos soldados do palácio presidencial La Moneda, onde teve a audácia de entrar, tendo estado mesmo a poucos metros do gabinete de Pinochet, mesmo sabendo que corria o risco de ser fuzilado no caso de ser reconhecido. Fingindo um casamento Littin conseguiu entrar no Chile com várias equipas de filmagem independentes. Seguem-se os encontros clandestinos com membros da oposição, os testemunhos da população, a adoração pelo falecido Salvador Allende, idolatrado como um Deus. Gravam um filme de quatro horas para a televisão e outro de duas horas para o cinema. Ambos seriam, mais tarde, projectados nos quatro cantos do planeta como instrumento de denúncia da ditadura de Pinochet. São estas as bases documentais de um documentário lançado em 1986 "Acta General de Chile" que viria a ser galardoado no Festival de Veneza e que fez aumentar a pressão internacional contra o regime do general ditador. Este é um livro essencialmente documental que Gabriel Garcia Marquez escreveu a partir de uma entrevista do cineasta ao próprio escritor de que resultaram 18 horas de gravação. Nele são relatados ainda vários episódios que não foram revelados nos filmes. Nele se contam os êxitos e os contratempos de todo o processo de filmagens, permeados por esquemas de segurança, nostalgia e revolta. Mas a importância deste documento não se centra na aventura vivida por Littin mas sim na recriação do clima de terror e de tensão em que viviam todos os chilenos enquanto eram governados pelo regime militar de Augusto Pinochet. Alguns nomes bem como algumas referências a datas e a locais foram alterados, para segurança de pessoas que continuaram a viver no Chile. Esta é, sem dúvida nenhuma, uma obra ímpar, de leitura obrigatória".