Por Ricardo Rangel
Os partidários do Brexit podem justificá-lo como quiserem, mas é indiscutível que a decisão dos ingleses é a vitória do isolacionismo, da incompreensão e da ruptura sobre o diálogo, a tolerância e o esforço conjunto.
Um extraterrestre que tenha visitado a Terra há oito anos, se voltar agora, ficará perplexo. Naquela época, o mundo vivia uma bonança econômica jamais vista. Os EUA preparavam-se para eleger seu primeiro presidente negro, que prometia acabar com a guerra no Iraque. A Europa era um país só, harmonioso e vibrante. A China crescia a taxas de dois dígitos, modernizava-se, e acreditava-se que em breve se tornaria uma democracia. O Brasil crescia, criava uma vasta classe média e prometia resgatar seus excluídos; o Rio de Janeiro começava a enfrentava, com sucesso, o problema de violência.
De lá para cá, a bolha imobiliária americana estourou, jogando o país na pior crise desde o crack da Bolsa em 1929; sem os EUA, a bolha de crédito europeia estourou, criando uma crise ainda pior do que a americana, e seus integrantes vivem às turras. A China aterrissou e as promessas democráticas foram adiadas indefinidamente. Na ausência dos americanos, o Estado Islâmico se tornou um pesadelo dez vezes pior do que a Al-Qaeda. A guerra civil na Síria destruiu o país e gerou uma multidão de desabrigados, que assombra a Europa — talvez por causa disso ninguém perceba que o Iêmen também foi destruído por uma guerra civil criada por Arábia Saudita e Irã. A desolação na África parece que conseguiu a proeza de ficar ainda pior.
O medo, a incerteza e a incompreensão levaram ao recrudescimento do ódio, da intolerância e da estupidez, expressos no apoio a forças obscurantistas como Marine Le Pen, na França, ou Donald Trump, nos EUA. E a vitória do Brexit, digam seus partidários o que quiserem, está ligada a essa tendência.
O Brasil, sem bolha, Síria ou EI, atirou-se de maneira espontânea e deliberada na maior crise de sua história, que não tem data para acabar, e nem vou falar do que acontece no Estado do Rio de Janeiro (o prefeito da cidade do Rio diz que está tudo bem, mas é melhor não falar disso antes das Olimpíadas).
“Que queda foi aquela, camaradas!”
Desculpem atrapalhar a sexta-feira.