sábado, 25 de junho de 2016

BREXIT - mais um NÃO que é global

Por Bruno Cava Rodrigues


É preciso entender o componente de recusa, sabotagem e indignação que aparece em plebiscitos como o "Oxi" (não) grego, há um ano, ou no Brexit do Reino Unido, ontem. É o mesmo ímpeto de negação do estabelecido que também aparece na votação de candidatos anticasta, no Podemos, nas plataformas municipalistas espanholas (Ada Colau, Manuela Carmena...), como também no 5Stelle na Itália, onde uma outsider de 37 anos, Virginia Raggi, venceu neste mês a eleição para prefeitura de Roma. Todos opondo-se aos políticos e empresários que gerem a ditadura financeira vigente. O ensinamento é global e poderia também ser transposto ao Brasil. Não existe fora à indignação suja, ambígua e polivalente que irrompe da crise das instituições do capitalismo global, uma crise da representatividade que ceifa à direita ou à esquerda dos partidos. Não tem bandeira e não se importa de votar em Freixo e Bolsonaro ao mesmo tempo, porque quer afrontar o sistema. Há uma inteligência nessa revolta, que está em rejeitar esquemas oferecidos, paralisar dialéticas reconfortantes: esquerda x direita, progressismo x neoliberalismo, anti-imperialismo. O levante de junho de 2013 já demonstrou que os indignados não vamos sair com programas sobre as cabeças elaborados por cúpulas partidárias, nem aderiremos em massa a respostas do mesmo sistema político-econômico que nos trouxe ao protesto em primeiro lugar. O terremoto abalou os bunkers políticos, varreu as suas certezas e abriu um terreno imprevisível e perigoso e é bom que assim seja. O discurso da "ascensão do fascismo" como necessidade histórica é derrotista: oferece uma metanarrativa ao fracasso das esquerdas enquanto imputa a culpa à sociedade, que estaria mais à direita do que nós, as nossas bolhas de conforto, os nossos projetos derrotados. É a própria inação, seus nojos identitários e pânicos morais, que persegue a realização desse diagnóstico como sentido da história. Não adianta lamentar o movimento antipolítico ou anticorrupção como instrumental exclusivamente para a reação, nem ridicularizar aqueles que, não encontrando alternativas, cospem em tudo o que está aí. É preciso sair dessa armadilha, cartografar as nuances, recompor as trajetórias passo a passo, inovar as categorias e agir, assumir apostas práticas.

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