quarta-feira, 28 de abril de 2010

Mário Miranda e o JK Clandestino

Mário Miranda de Albuquerque é presidente da Comissão de Anistia do Ceará e nosso grande amigo. Amigo - irmão, lutou contra a ditadura, foi preso e hoje continua na sua batalha em fazer com que a história real dos tempos de chumbo vividos em nosso país no período da ditadura militar, seja totalmente desvelada.
Abaixo, texto escrito por Mário no Diário do Nordeste
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=774697


JK clandestino
26/4/2010


A série de reportagens que as emissoras de TVs brasileiras exibiram para lembrar os 50 anos de Brasília trouxe uma revelação que surpreendeu até mesmo aos que estão mais diretamente envolvidos no trabalho de recompor a memória da luta de resistência à ditadura militar que infelicitou o País de 1964 a 1985.

O visionário fundador, Juscelino Kubitschek, fora proibido de botar os pés na bela e admirável capital da República e - o que é mais surpreendente (e admirável) - violara a absurda proibição, visitando-a clandestinamente, escondido sob as vestes de um simples candango, chinelos, roupa barata e chapéu.

A par de engrandecer ainda mais a biografia do talvez mais popular presidente brasileiro (adjetivo que a ditadura e as elites oligárquicas ajudaram a tornar pejorativo com a adesão de segmentos acadêmicos e mesmo de esquerda), a revelação reforça a extrema necessidade da formação e do trabalho da Comissão da Verdade, constante do Plano Nacional de Direitos Humanos - PNDH-3, alvo de produtiva polêmica no fim de 2009.

Se um fato como esse só agora é revelado para o grande público, pergunta-se o quanto deve haver de acontecimentos importantes da época que continuam mantidos em segredo, numa espécie de crime continuado, e aos quais é vedado o conhecimento à Nação? Isso, com nefastas consequências ao desenvolvimento do País, pois o impossibilita de conhecer-se e reconhecer-se a si próprio, no que tem de bom e ruim (condição sine qua non para superar-se, e evitar repetir-se).

O Brasil e seu povo estão - como, aliás, sempre estiveram - maduros para assumir seu próprio destino, o que comporta, inclusive, o cometimento de erros - mas, que sejam novos e não velhos e trágicos erros.

No que diz respeito ao País, precisamos romper com a relação pai-criança e assumirmos a madura condição de irmãos.

Sem exclusões.

MÁRIO MIRANDA DE ALBUQUERQUE - pres. da Comissão de Anistia do Ceará

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