segunda-feira, 17 de maio de 2010



Maio, Maduro Maio




Claude Monet


Abaixo da linha do equador, outono. Acima da linha do equador, primavera. Para mim, que nasci e continuo morando em Recife, Nordeste do Brasil, muito próximo à linha do equador, maio está mais para verão e primavera. Cresci ouvindo dizer que maio era o mês das flores, mês das noivas. mês das mães, mês de Nossa Senhora (como lembro, na minha infância, das novenas de Nossa Senhora!) Sempre amei o mês de maio. Talvez porque também cresci ouvindo a minha mãe dizer que seu sonho era ter uma filha branquinha (ela era morena da flor de canela, linda morena) e nascida no mês de maio. Seu sonho se concretizou. Nascer em maio é ser em parte taurina, teimosa, um tanto obsessiva, exigente consigo mesma, um tanto severa, mas ao mesmo tempo, um coração de onça, um coração que se compraz e que quer resolver todos os problemas do mundo. O mês de maio é assim, fim de uma estação, início de outra. Nem inverno, nem verão, mês de flores amadurecidas.
Vsitando o página do Google na intenção de descobrir mais sobre o mês de maio, encontrei várias indicações que remetiam quase todas ao sentindo religioso deste mês, especialmente à Nossa Senhora. No entanto, em meio a estas indicações, aparece o site do Portal Ig, denominado “Delas”. Nele, a coluna “Toques de Alma”, editada semanalmente por Adília Bellot, chama a atenção para o fato de não existirem coincidências na memória coletiva dos homens. Mas, o que isto tem a ver com o mês de maio?
Em seu texto, intitulado “Símbolos do mês de maio”, Adília afirma que, um amigo lhe falou certa vez ser maio “o mês mais feminino do ano”. Conclui então que “não há de ser só por coincidência se terem juntado no mesmo mês tantas festas femininas”, e parte para a empreitada de descobrir as razões da feminilidade do mês de maio.
Abaixo, reproduzo parte do texto de Adília, ou praticamente o texto todo, onde ela, com os dados da pesquisa realizada, mostra a relação das várias festas do mês de maio com as festas e ritos provenientes dos países do hemisfério norte, dos nossos ancestrais.


Do texto de Adília


“Beltane, a festa da primavera”


“Nos países do hemisfério norte, em maio a primavera está no auge. As florálias romanas eram apenas um dos grandes festivais que marcavam a mudança da estação. Beltane ou o grande festival do fogo entre os celtas, o povo que vivia em boa parte do que hoje a gente conhece como Europa, antes da expansão do cristianismo era outro. Para estes celtas – e para os irlandeses, seus descendentes mais diretos – o verão começava entre o dia 30 de abril e 1o de maio. Mas não era só a volta do calor que os festejos de primavera celebravam. Importante também era garantir boas colheitas do trigo recém semeado. Os rituais de fertilidade traziam a festa para os campos. Os casais vão dançar em torno do mastro, símbolo da árvore sagrada. Trançando e destrançando fitas coloridas, aproximam-se e afastam-se, antecipando jogos mais ousados de sedução. Alguém lembrou dos nossos mastros de São João? Pois, nossas festas juninas, embora no inverno, guardam, sim, um restinho de sol...
Por toda parte, encenava-se sobre a terra, o mesmo ato sagrado que assegurava a vida: a germinação das sementes. Na última noite do festival, as orgias reproduziam o hierogamos, o casamento sagrado que unia o casal divino. E, repetindo o ato criador original, faziam circular a energia criativa, espalhando-a pelos campos cultivados e pelos corpos e almas de mulheres e de homens. A mágica do ritual garantia a vida vegetal e animal até o ano seguinte….”


“Maio, mês das noivas”


“Maio, mês das noivas...mesmo sem saber, talvez estejamos impregnados destas memórias. O fato é que embora hoje a gente mal nem perceba a passagem das estações, para estes nossos ancestrais, seria impensável trocar as cerimônias típicas da primavera pelas do outono e vice-versa. Cada época, tinha o gosto, os cheiros, as cores e o espírito da estação… e pronto, estamos conversados.
E para quem acha que só existe um jeito de se casar – o nosso -- surpresa: o casamento, tal como a gente conhece hoje não existe até algum momento do século 18. É o que diz o sociólogo Philippe Ariés, francês e um dos autores do livro Sexualités Occidentales. Interessantíssimo, por sinal. É lá que aprendo que até o século 9, a função do padre resumia-se a abençoar o leito nupcial, para garantir a fecundidade da “semente” do casal. Antes disso, a cena de um casamento seria mais ou menos assim: estamos na casa da moça, onde alguns parentes ou amigos aguardam. O pai da noiva convida o futuro genro para sentar-se e oferecer a ela uma taça de vinho. Maria, a noiva, bebe em silêncio. Talvez o próprio pai, talvez um tio, irmão de sua mãe convida: “Dá de beber ao teu noivo, João, como sinal de união”. Ela obedece e leva a taça aos lábios do felizardo João, que então anuncia: “Eu beijo Maria, como sinal de união”. Eles se dão as mãos e se beijam. Os presentes festejam, gritando, “eles estão casados! E que todos bebam à saúde dos dois…” Um beijo, um gole de vinho, gente querida em volta...quer coisa mais simples?”


“Os símbolos do casamento”


“Eventualmente, um ritual tão importante assim vai se enriquecendo de símbolos. Havia as flores que enfeitavam Maria com os tons e perfumes da própria primavera. E o anel que, assim como o gesto de dar as mãos, representa união, totalidade. E o costume de jogar arroz ou qualquer outro grão nos noivos também não cabe naquela cena de primavera? Abundância e fertilidade, tudo de que um casal precisa... Para afastar os maus espíritos, o cortejo que acompanhava os recém-casados até sua nova morada, fazia muito barulho – lembraram das latas amarradas atrás dos carros? E neste cenário de um maio ensolarado não podia faltar comida: pães e bolos compartilhados, promessas de unir esforços, na saúde e na doença...Símbolos-bênçãos que deveriam ajudar os noivos a atravessarem juntos muitas primaveras e muitos invernos...”


“Maio, de Nossa Senhora”


“E Nossa Senhora? Prometo falar só dela num outro artigo, mas vou contar uma historinha bem curta para vocês. Existe um costume nas aldeias de Portugal, cujas origens ninguém sabe explicar muito bem. Em algum momento entre a Páscoa e Pentecostes, ou seja, em plena primavera, os habitantes se reúnem para fazer o bodo anual contra pragas e contra a seca. “Bodo” vem do latim votum e quer dizer “promessa”. Era o nome da refeição que se servia nos casamentos. Um bodo ritual também era oferecido a Nossa Senhora da Guia ou Nossa Senhora Rainha do Céu. Em grandes fornos colocados nas praças dos vilarejos, os camponeses preparavam para esta refeição uns biscoitos, parecidos com bolos, chamados “cavacas”. E “cavacas” chamavam-se também os pães que os cananeus, do outro lado do Mediterrâneo, ofereciam à sua Senhora dos Céus, Ishtar, há milhares de anos...Coincidência? Acho que não. Não existem coincidências na memória coletiva dos homens...Agora adivinhe só de onde vêm nossa palavra “bodas”*



Bem, eu sou do tipo que gosta de comemorar aniversário, que fica feliz no mês de maio porque foi o mês em que nasci. Gostaria de comemorar durante o mês inteiro. Já ouvi alguém falar que algumas pessoas pensam que são as únicas pessoas do mundo que fazem aniversário, que naquele dia é como se ninguém mais no mundo existisse, apenas ela.
Existe também quem diga que aniversário é coisa antiga, outras têm preconceito com essa data por questões religiosas, porque no Ocidente, festejar aniversário tem origem nos ritos pagãos.
Encontrei também no Google o seguinte texto que fala sobre a origem do aniversário no mundo ocidental:


“A origem do aniversário: Os vários costumes de celebração de aniversário natalícios das pessoas hoje em dia têm uma longa história. Suas origens acham-se no domínio da mágica e da religião. Os costumes de dar parabéns, dar presentes e de celebração - com o requinte de velas acesas- nos tempos antigos eram para proteger o aniversariante de demônios e garantir segurança no ano vindouro... Até o quarto século, o cristianismo rejeitava a celebração de aniversário natalício como costume pagão.
O costume de acender velas nos bolos começou com os gregos... Bolos de mel redondos como a lua e iluminados com velas eram colocados nos altares do templo de [Ártemis]... As velas de aniversário, na crença popular, são dotadas de magia especial para atender pedidos ...Velas acesas e fogos sacrificiais têm um significado místico especial desde que o homem começou a erigir altares para seus deuses. As velas são assim uma honra e um tributo a criança aniversariante e trazem boa sorte...”



Sabe-se, portanto, que existem outras partes do mundo onde não se comemora a data do nascimento de uma pessoa como nós. Vejamos :


“A prática de todo os anos festejar a data em que uma pessoa completa mais um ano de vida não é completamente seguida no mundo.
Exemplo: Vietnã, lá não se comemora na data específica do nascimento, mas sim, na passagem do ano novo, onde todas as pessoas comemoram seus aniversários coletivamente. Ou seja, todos fazem aniversário no mesmo dia! ”



Tive uma tia que já foi para os braços de Deus, a nossa querida tia Inez que também fazia aniversário no mês de maio, no dia 21. Foi uma das pessoas mais generosas que já conheci em minha vida. Tenho um sobrinho que completa anos no dia 16 de maio. É o geniosinho da família e fez agora 16 anos. Amo demais esse menino.Tenho também duas grandes amigas que nasceram no dia 2 de maio. Todos os anos nos reunimos em algum dia do mês para comemorarmos, trocarmos presentes e fazermos uma boa farra ao lado de outros amigos queridos nossos.
Nunca havia conhecido uma pessoa que completasse anos exatamente no dia 18, como eu. Tive o grande prazer de encontrar uma taurina que também aniversaria neste dia lá no twitter, e lá também fiquei sabendo que o filho de uma pessoa muito bacana que sigo, faz aniversário no dia 19.
A todas essas pessoas quero homenagear hoje e dizer do meu carinho imenso por elas. Não me ligo muito nessas coisas da astrologia, mas de qualquer forma reconheço muitas características semelhantes nos nascidos no mês de maio, alguns taurinos, outros geminianos. Diz-se que os taurinos são: escrupulosos, determinados, pacientes, amorosos, materialistas, teimosos, argumentadores. Não me reconheço como materialista e nem sempre sou tão paciente assim. No resto, enxergo sim estas características nas pessoas nascidas nesse lindo mês do ano, e com elas quero me confraternizar, não apenas hoje, não apenas nesse lindo mês de maio, mas em todos os dias de nossas vidas.
Abaixo, deixo a letra da canção “Maio, Maduro Maio”, escrita e musicada pelo grande Zeca Afonso, poeta, compositor, cantor nascido na linda cidade de Aveiro em Portugal, “notável compositor de música de intervenção, durante um dos mais conturbados períodos da história recente portuguesa. Como compositor, soube conciliar de forma notável a música popular e os temas tradicionais com a palavra de protesto”

Deixo também esse vídeo de Madredeus, grupo musical português cantando a canção do Zeca na linda voz de Teresa Salgueiro


Maio, Maduro Maio


Zeca Afonso



Maio maduro Maio, quem te pintou


Quem te quebrou o encanto, nunca te amou


Raiava o sol já no Sul, Ti ri tu ri tu ri tu ru Ti ri tu ru tu ru


E uma falua vinha lá de Istambul


Sempre depois da sesta chamando as flores


Era o dia da festa Maio de amores


Era o dia de cantar, Ti ri tu ri tu ri tu ru Ti ri tu ru tu ru


E uma falua andava ao longe a varar


Maio com meu amigo quem dera já


Sempre no mês do trigo se cantará


Qu’importa a fúria do mar, Ti ri tu ri tu ri tu ru Ti ri tu ru tu ru


Que a voz não te esmoreça vamos lutar


Numa rua comprida El-rei pastor


Vende o soro da vida que mata a dor


Anda ver, Maio nasceu, Ti ri tu ri tu ri tu ru Ti ri tu ru tu ru


Que a voz não te esmoreça a turba rompeu



Endereço da página da internet da Associação José Afonso



*Adília Belotti. Editora responsável pelo Delas, o site feminino do portal IG, onde tem uma coluna chamada Toques de alma. Cuida do IgEducação e de um site de cultura multimídia, o Arte Digital assim como é colunista do Somos Todos UM.
Em 2006 lançou seu primeiro livro: Toques da Alma.







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