Li esse texto primeiramente no Língua de Trapo . O Língua postou por lá e comunicou a origem do mesmo, que é o Com Fel e Limão . Excelente análise do Vinícius Duarte sobre o efeito Tiririca nessas eleições. Isenta de preconceitos e bastante esclarecedora.
outubro 4, 2010
Quando escrevi este post aqui, em 14/09, estava defendendo uma convicção meio contra a maré. Alguns dias antes da eleição, entretanto, acabaram aparecendo outros textos que se ligaram na mesma parada: Tiririca, na verdade, seria a transformação, pelos nossos marotos partidos, do voto jocoso (ou de protesto) num voto de legenda.
Sim, e pelas razões que já expus no outro post, Tiririca não é Enéas, nem Clodovil, nem Cacareco. É componente de uma coligação naturalmente muito boa de votos, mesmo que ele não existisse (ou fosse inventado). Só me faltavam os números, e o TSE os disponibilizou. Portanto, vamos tentar provar que o Tiririca não é esse terror todo, mesmo com os acachapantes 1.300.000 votos:
1 – Se todos os votos dados ao palhaço fossem ANULADOS, pouca coisa seria alterada na composição da bancada paulista: a coligação do PT perderia 4 candidatos, o PSDB ganharia 2, o PDT elegeria mais um, e o PV ganharia mais 1 cadeira. E, na verdade, o Tiririca nada teria a ver com essas cadeiras a mais do PDT e do PV, foi apenas a diminuição do coeficiente eleitoral (via “anulação” dos votos do Abestado) que propiciaria a entrada deles.
2 – Ao contrário do que previram diversos “especialistas”, Tiririca não vai para o Congresso levando a reboque uma quadrilha de novos – e mal votados – deputados: seus votos elegeram, diretamente, o Delegado Protógenes Queiroz (PCdoB), o petista Wanderley Siraque e o Otoniel Lima (PRB), e todos eles tiveram mais de 90.000 votos. E o Waldemar Costa Neto (sempre usado como exemplo do mal que votar em Tiririca causaria) seria eleito mesmo que o palhaço tivesse móooo-rrriii-ddo, pois recebeu quase 175.000 votos.
3 – Não haverá a propalada “Bancada do Palhaço” na Câmara.
Olhando os números da apuração em SP, observamos outras aberrações, a meu ver muito mais graves do que uma eventual aparição de um candidato caricato, e que, isto sim, deveria ser pensado na reforma eleitoral. Vejamos:
a) Você, que tem por costume votar somente na legenda do seu partido predileto, saiba que seu voto pode servir pra tudo, MENOS para ajudar diretamente à sua agremiação (se ela estiver coligada, claro): por exemplo, os votos dados ao PSDB não elegeram NENHUM candidato tucano; todos são do DEM; os votos dados ao PT seguiram quase a mesma sorte: elegeram três candidatos também, mas só UM é do Partido dos Trabalhadores. Pra que serve voto na legenda, então?
b) o tal efeito Tiririca seria avassalador, caso ele se candidatasse pelo PTN: elegeria, além dele mesmo, a Cameron Brasil, o Tandão (?), o Maguila e o Néfi Tales; se estivesse no PSTU gritando contra a burguesia, todos os candidatos do “vote 16″ mencionados nas urnas seriam eleitos com a ajuda do Candidato Abestado! Inclusive a dona Fátima Fernandes, com seus expressivos 416 votos.
Ao fim e ao cabo, o que se viu no Episódio Tiririca foi só mais do mesmo: os dois maiores blocos partidários se engalfinhando por míseras 3 ou 4 cadeiras na Câmara, mas desta vez usando o Tiririca como critério de desempate. Em troca, é claro, de uma vaguinha pra ele, o que, politicamente, significa quase nada. Ele é 1/513 do Congresso. A não ser que queiram elegê-lo presidente da Câmara, mas aí a pegada é com os deputados nos quais você votou (afinal, não se acha mais UM eleitor do Tiririca em SP, como de costume ocorre).
No mais, o Congresso Nacional continua sendo a cara do povo que o elege, aqui e no resto do mundo. Não adianta achar feio, é assim que somos. Em SP, maior consumo per capita de livros de auto-ajuda do mundo, o segundo colocado em votos atende por Gabriel Chalita. O que, convenhamos, faz sentido: se o campeão é analfabeto, o vice-campeão não conseguiu alfabetizar ninguém como Secretário da Educação.
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